29.11.03

poema para quem quiser ler

Espartihada,
apertada,
sufocada...
Num vestido sem mangas,
nem alÁas,
nem lugar onde por os braÁos.
Um colete de forÁas
adornado por estampados,
botıes e apliques.
As horas passam,
hermÈticas.
Da boca,
nem um som.
RESPIRAR!!!

encontros fugazes

- T·s ‡ espera de alguÈm?
- Do museu!?
- Sim. Tu estavas antes no museu, n„o estavas?
- Sim. (sorrindo)

Deixar uma marca em alguÈm; uma memÛria de h· instantes em alguÈm que nem se viu.
Criar, sem querer, uma ligaÁ„o t„o forte que permite, sem medo, perguntar a alguÈm se precisa de ajuda.

28.11.03

abraÁos

Quero o dia mundial do abraÁo!
Toda a gente precisa de um abraÁo de vez em quando. Um abraÁo daqueles espont‚neos, dado sem raz„o nenhuma na hora certa. Um abraÁo daqueles apertados que aquece c· por dentro e arruma tudo nas devidas prateleiras.
Cartazes pela cidade h„o-de divulgar o dia do abraÁo para lembrar que um abraÁo È bom e faz bem, mesmo quando È t„o apertado que quase sufoca.
O abraÁo ama e conforta. Devolve ‡ inf‚ncia e d· seguranÁa.
Abracem-me! Sou um malmequer!

27.11.03

o silêncio dos motores

Ouço os carros a passar do outro lado da janela. Dantes era eu ali.
São seis da manhã, não há ninguém lá fora. Dantes era eu ali.
Um carro bate a porta. Alguém sai. O carro arranca. Dantes era eu ali.
A ouvir música, a falar, a dormir, a acordar. Dantes era eu ali.
Dantes era eu ali. A entrar em casa com pezinhos de lã. A adormecer com o som do despertador que acorda o resto da casa.
Dantes era eu ali, mas agora estou aqui.

26.11.03

bang bang

Ontem recebi uma prenda. Um carinho vindo de longe para me fazer sorrir.
Afinal, isto n„o s„o sÛ l·grimas, ais e queixumes. E nas pequenas coisas e nos pequenos gestos pode estar a chave para salvar um dia de ser sÛ mais um.
Obrigada :)

letras azuis

Uma caneta que regurgita dores que n„o quero sentir para um papel em branco, logo a seguir manchado de tinta.
Borrıes azuis dizem muito mais do que se lÍ.
Dores antigas fundem-se com as recentes, no papel, para formar uma sÛ.
Uma cicatriz na folha. Marcas do bico da caneta n„o deixam esquecer o que l· est· - mesmo quando se risca por cima.
L·grimas de ontem, hoje e amanh„ s„o uma sÛ. Gota que escorre pelo rosto e cai, pesada, na base do pescoÁo, ecoando pelos ossos num som surdo que se faz ouvir c· por dentro. Cai no papel e borrata a tinta - esbate as dores num mar azul de letras que j· foram.
As letras fazem-me chorar.

21.11.03

*pop*

Incha, incha, incha e faz *POP* Cor de rosa e brilhante *POP*
Tutti-frutti ‡s bolhinhas no ar *POP* Tutti-frutti na ponta do nariz *POP* Tutti-frutti de borracha mole, cor de rosa e saboroso - incha, estica, dilata atÈ ser uma fina pelÌcula e *POP*
Tutti-frutti el·stico esticado atÈ fazer *POP*
*POP*POP*POP*
Borracha el·stica e mole, sem sabor, colada debaixo do tampo de uma mesa qualquer.

pingos

Chove no mar, na areia e no asfalto. C· dentro ouvem-se os pingos TAP...TAP...TAPTAPTAP, TAP...
Cachorro com batatas...TAP, TAP, TAP...Guaran·...TAP...TAP...TAPTAPTAP
Os Bush n„o ouvem a chuva. Est„o ocupados "Letting the cables sleep".
Um cafÈ, por favor. TAP...TAP...TAPTAP...TAP, TAP
N„o h· ninguÈm aqui. A chuva assusta as pessoas porque cai em todo o lado e lava, mesmo por dentro. Mas quem n„o sabe que precisa de uma lavagem interior n„o gosta da chuva - tem medo de se sentir limpo de repente e, assim, descobrir que aquele banho de alma era necess·rio.
DevÌamos lavar as nossas almas mais vezes; com uma escovinha chegar bem l· no fundo para sarar as feridas deixadas pela semana.
Nada como um banho de chuva para me sentir mais leve.

20.11.03

de partida

Vou viajar. Levo malas, sacos e d˙vidas. Questıes por resolver. Levo livros, folhas e papeis. Textos de outros mundos que n„o s„o para ali chamados.
Vou de viagem para o meu ref˙gio. DVDs ao colo e roupa quente no saco. Levo o meu c„o para ter companhia.
Vou viajar e espero encontrar tudo como deixei.
Voltar ali È como voltar a mim. L·, sou mais eu do que em qualquer outro sÌtio. Reencontro-me todos os dias.
L· n„o h· preocupaÁıes, nem horas certas para jantar. Somos todos crianÁas na nossa Terra do Nunca.
Todas as estrelas cadentes caem naquele mar e todos os OVNIs voam naquele cÈu; ali, a magia resulta sempre e nunca È tarde para recomeÁar.
Manh„s de sono e sonhos; tardes de chuva, sol, piscina e ketchup; noites de magia, estrelas, areia, m˙sica, playstation e esparguete.
O mundo È nosso ao fim-de-semana. SÛ È pena n„o ser Ver„o todo o ano.
L· eu adormeÁo sem pensar.

19.11.03

precisa-se

Preciso de emprego. Preciso de UM emprego. Um emprego bom, f·cil e bem remunerado.
Onde haja bom ambiente e que n„o me ocupe muito tempo.
...Que saudades de ser palhaÁo!

instant‚neos

Desconhecidos arrastam-se quando ouvem o seu nome. Desconhecidos atÈ mesmo da cidade, que dizem finalmente conhecer.
Aqui n„o ha rostos felizes. Este est·dio intermÈdio entre o estar doente e o n„o estar... … uma ang˙stia muito grande, como se o resultado do exame ditasse a sentenÁa. Ontem n„o estava doente. Hoje sai o exame. Hoje estou.
Nem tudo È t„o Ûbvio como uma unha encravada.

18.11.03

q.u.a.t.r.o.

O n˙mero quatro È horrÌvel e cheira mal dos pÈs. … um bicho feio, castanho e peludo. Detesto o n˙mero quatro! Sempre foi assim. Gosto do dois, do seis e do oito, detesto o quatro.
Se pudesse, nunca usava o n˙mero quatro e esquecia-me de o contar. 1, 2, 3, 5, 6, 7, 8, 9... Ficava muito melhor!
Para os asi·ticos significa morte, mas eu n„o sou chinesa, nem japonesa, nem nada que tenha olhos em bico. Mas detesto o quatro.
E n„o È por nada, nem raz„o nenhuma. Sempre foi assim, nunca foi doutra maneira. Adoro todos os n˙meros pares, menos o quatro.
… feio e grande e ocupa muito espaÁo com aquele pÍlo todo!
N„o gosto, e pronto!

est· la...? ou n„o est·?

O telemÛvel insiste, insiste, insiste, insiste em n„o tocar. Mas eu n„o quero atender. Hoje n„o estou para ninguÈm.
E ele insiste em n„o tocar. O silÍncio È quase t„o incÛmodo como aqueles toques estridentes na sala de cinema quando o filme È mesmo bom. Mas este n„o p·ra.
N„o estou para ninguÈm. … este silÍncio que me anula. Como se a minha existÍncia dependesse de um toque, uma vibraÁ„o, uma mensagem escrita ou de imagem.
N„o existo quando ninguÈm me liga. Como a ·rvore no meio da floresta que ninguÈm ouviu cair.
Espera...! Acho que ouÁo o telemÛvel!

pelo picotado

Recortar-me pelo picotado. A mim. Um ser destac·vel que procura o seu espaÁo.
Recortar-me pelo picotado. A mim. E colar-me numa qualquer paisagem, instantaneamente integrada numa nova realidade.
Recortar-me pelo picotado. A mim. Para sair de onde estou e logo estar onde quero ficar.
AlguÈm me arranja uma tesoura?

16.11.03

lixeiras verbais

Detesto pessoas que escrevem coisas sem significado. Pseudo-intelectuais cheios de palavras caras e hermÈticas que amontoam num texto disconexo. … tamanha a dimens„o daquelas lixeiras de palavras perfeitamente ˙teis na pena de outrem, que o ˙nico coment·rio de quem lÍ È "Oh! Que bonito!" - sem coragem para ser sincero.
Detesto lixeiras de vocabul·rio! A crÌtica aplaude-as!
… a velha histÛria do rei que ia n˙ - todos o viam como ele estava, mas receavam cair em ridÌculo se o comentassem; talvez eles n„o fossem capazes de ver as lindas vestes do rei.
Irritam-me os empilhadores de figuras de estilo!
Mas talvez eu n„o seja capaz de ver o verdadeiro significado de tais construÁıes liter·rias.
Talvez eu n„o dÍ para mais.

vinte e dois

¿s vezes sinto que parei no tempo. 13, 15, 16, 18, 19 anos. 20 n„o! 20, 20, 20, 20, 20, 20, 20, 20, 20, 20, 20...22.
Vinte e dois. Diz-se que s„o "dois patinhos", como que para infantilizar o n˙mero.
Custa ver o tempo a passar, ver tudo o que j· n„o vou poder fazer, e realizar quanto do tempo que tive foi perdido e desperdiÁado em adolescentes esperanÁas v„s. Daquelas que achamos fazerem todo o sentido aos 13, 15, 16, 18, 19 anos. Aos 20 n„o! Muito menos aos 22!

torradas

Sou uma torradeira estragada. Quando funciono, aqueÁo tanto, que acabo por queimar o p„o.
Mas a maior parte das vezes sinto como se estivesse desligada da ficha. O p„o est· l·, mas nem aquecer eu consigo. … demasiado esforÁo por um p„o, alguns poder„o dizer. Eu concordo. Mas quando dou por ela, j· estou a tentar outra vez.
Qualquer dia rebento um fusÌvel!
Mas eu sÛ queria mesmo tostar o p„o atÈ ao ponto certo, quando ele fica fÙfo e quentinho, ligeiramente tostado. Pomos-lhe manteiga e esperamos que derreta. Depois cortamos o p„o em trÍs partes e comemos a do meio em ˙ltimo lugar. Se comermos primeiro essa parte, todo o resto da torrada parecer· inferior.
Eu queria, por uma vez, A torrada perfeita!
Mesmo assim, ser· que conseguia guardar o melhor pedaÁo para o fim?

colecÁ„o de postais

Colecciono postais que envio a mim mesma porque n„o h· ninguÈm quem mos mande.
Encontrei um di·rio antigo enterrado numa gaveta cheia de surpresas da Kinder j· montadas.
Palavras de mim para mim. Cartas de ontem enviadas para o EU de hoje. RecordaÁıes de mim presas por um aloquete em forma de coraÁ„o.
N„o deixa de ser irÛnico....

sinais de fumo

Uma bailarina gorda danÁa com a leveza de um folha de Outono. Uma VÈnus prÈ-histrica de sapatilhas cor de rosa. ¿s vezes È bom ser diferente.
H· dois anos que comeÁou. Agora olho-me no espelho e n„o sei quem vejo. Procuro quem conheÁo, mas quase nunca est„o l·. N„o gosto de fotos antigas - n„o encontro em mim aquilo que j· fui. "Oh! Eras um bebÈ t„o fofinho...!" Como se eu j· tivesse morrido, ou aquele bebÈ j· n„o existisse. Saudades de alguÈm que j· existiu, mas que ainda existe....de uma forma diferente.
… estranho como falamos do passado. Como se fosse outra realidade, outra vida. Como se morressemos todos os dias para renascer no dia seguinte, mas como outro alguÈm que vamos tentar ser.
Acho que È por isso que sou assim. Com uma sofreguid„o desmesurada quero absorver tudo, comer tudo, ouvir e conhecer...como se n„o houvesse amanh„. (Sr. Dr., j· h· cura pra isto?)
Esqueci-me de mim algures entre o amar e o querer ser amada. E continuo sem namorado. Projectei-me tanto no outro que me deixei ir quando ele se foi.
H· dois anos que comeÁou. Mas isso j· n„o È novidade.